É no inverno que o ar já tão poluído fica ainda pior. Oclima seco, a temperatura baixa e a pouca quantidade de ventos favorecem a formação de grandes massas degases nocivos à saúde, como o óxido de nitrogênio, o monóxido de carbono e o ozônio. Isso sem falar nas partículas, liberadas aos montes por carros, ônibus e motos. Microscópicas, são dez vezes menores do que o diâmetro de um fio de cabelo. E nem precisa respirar fundo para que sejam inaladas. Basta o simples e vital ato de inspirar.
"Esses poluentes vão direto para os pulmões o tempo todo", conta o médico Alfésio Luiz Ferreira Braga, do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a USP. "De lá, boa parte segue viagem rumo à corrente sangüínea, espalhando-se por cada célula do corpo." E não só quem está na rua sofre os efeitos das substâncias venenosas. Elas invadem a sua casa sem a menor cerimônia, sobretudo se você morar em um local muito movimentado.
A exposição contínua a toda essa sujeira desencadeia inflamações no organismo inteiro, além de potencializar o processo oxidativo das células ¿ ou seja, sua degeneração. A tal oxidação, que está por trás do envelhecimento da pele e de todos os órgãos, também tem culpa no cartório quando o assunto é câncer. Não à toa, apoluição mata mais de 2 milhões de pessoas no mundo a cada ano. Só em São Paulo, são mais de 2,5 mil as vítimas fatais ¿ número superior ao dos que morrem anualmente por causa do vírus da aids.
É verdade que mudar esse cenário sufocante envolve ações de longo prazo, mas nem por isso você deve se conformar com a fumaça que entra pelas narinas. Pequenas atitudes que estão ao seu alcance podem fazer a diferença. Primeiro para amenizar os efeitos sobre a saúde. E segundo para dar sua parcela de contribuição para salvar o planeta, como você verá mais adiante. "Evite atividades externas em horários de pico de trânsito, quando a poluição é maior", recomenda, de cara, a médica fisiatra Isabel Chateaubriand de Salles, do Hospital Sírio Libanês de São Paulo.
De manhã cedo e no fim da tarde, há tantas substâncias nocivas em suspensão que os pesquisadores pedem a mães de bebês e também aos idosos, mais suscetíveis às encrencas provocadas pelo ar de má qualidade, que permaneçam em casa. "O mesmo vale para cardíacos e pessoas com problemas respiratórios, como os asmáticos", enfatiza Alfésio Luiz Ferreira Braga.
Os belos dias ensolarados do inverno, um convite para passeios ao ar livre, também concentram grande quantidade de partículas nocivas. "Os mais vulneráveis não deveriam pôr os pés fora de casa entre as 10 da manhã e as 4 da tarde", opina Maria Lúcia Guardani, daCompanhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, a Cetesb, que é ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo do estado de São Paulo. Durante esse período, formam-se maiores quantidades de um gás perigosíssimo, o ozônio. "Ele surge com a ação da luz do sol sobre outros gases, como o óxido de nitrogênio", explica."Ao sair de casa você se expõe cinco vezes mais a esse poluente.
" E pensar que o mesmo ozônio funciona como uma barreira contra a radiação solar lá na atmosfera, entre 15 e 50 quilômetros de altitude, enquanto aqui na superfície..."Suas partículas minúsculas inflamam os pulmões, além de dificultar o transporte do oxigênio pelo sangue", afirma Helena Ribeiro, do Departamento de Poluição Ambiental da Faculdade de Saúde Pública daUSP. "Infelizmente esse gás costuma se acumular sobre as áreas verdes das cidades." Pois é, para os pulmões ¿ que pena ¿ não é uma boa idéia freqüentar parques nos dias muito ensolarados.
Fonte: saude.abril.com.br