O trabalho, vencedor do Prêmio SAÚDE 2012 na categoria Saúde Mental e Emocional, é parte de um grande levantamento feito em 24 países. E, na opinião da psiquiatra Laura Helena Silveira Guerra de Andrade, responsável pelo projeto por aqui, ele serve de modelo - e de alerta - para outros aglomerados com mais de 10 milhões de habitantes, incluindo cidades brasileiras que se aproximam dessa dimensão. "Constatamos que, nelas, as mulheres têm mais distúrbios de ansiedade e humor, enquanto homens ficam propensos a problemas de controle de impulso e abuso de drogas", resume a médica.
A vulnerabilidade feminina tem explicação sobretudo em dois fatores. Um deles, aponta Wang Yuan Pang, psiquiatra integrante do SP Megacity, está na oscilação hormonal. O outro, no excesso de responsabilidade. Isso porque é cada vez maior o número de mulheres na posição de chefe de família, com a sobrecarga de ter que disputar com o homem um espaço no mercado de trabalho.
O perrengue com as contas no fim do mês, aliás, engrossa a lista de responsáveis pela fragilidade mental. "Quando o desemprego é alto, sem renda para o sustento familiar, o risco de compensar a angústia no álcool e nas substâncias ilícitas se amplia", explica Pang. "Além disso, muita gente, principalmente os migrantes, vive em áreas de privação, com infraestrutura precária e graves problemas de marginalização, o que também contribui para esse quadro", acrescenta.
A criminalidade tem peso importante nessa equação, uma vez que mais de 54% das pessoas ouvidas relataram já ter presenciado algum incidente violento. "Vivenciar essas situações abre precedente para disparar diversos transtornos, e não só o estresse pós-traumático", diz Laura Helena. O medo crônico de assalto, por exemplo, esgota o sistema de defesa psíquica, provocando quadros de ansiedade. "A vítima passa a preferir espaços fechados, restringindo sua rotina", completa seu colega Wang Yuan Pang.
Do minucioso questionário aplicado pela USP, surge outro dado inquietante: somente 8,7% das pessoas com alguma perturbação recebem tratamento. "Além de agravar os sintomas, isso pode deteriorar a saúde como um todo", alerta Mario Eduardo Costa Pereira, professor de psicopatologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista. "Aumentam a insônia e a pressão arterial, a pessoa come demais ou muito pouco e até reduz sua produtividade", ele exemplifica.
Laura Helena acredita que o SP Megacity abre a oportunidade de desmitificar a doença mental e melhorar o acesso aos serviços especializados. Para isso, ela aposta no treinamento das equipes de saúde que fazem visitas domiciliares para que identifiquem e encaminhem os casos de risco. Enquanto isso não acontece, alguns sinais indicam que está na hora de procurar ajuda. "É importante a auto-observação de palpitações, suor excessivo em momentos de tensão, pensamentos ruins que não saem da cabeça e frequente falta de atenção", enumera a psicóloga Dirce Perissinotti, do Programa de Atendimento às Vítimas de Violência e Estresse da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
É de Dirce também uma receita de equilíbrio quando o barulho da cidade grande falar mais alto em sua mente. "Respirações abdominais são ótimas. Além disso, tente atividades diferentes, abra-se para o novo!"