Sexo oral não é brincadeira quando se trata do HPV, o papilomavírus humano. Todo mundo associa a famosa doença sexualmente transmissível — ou DST — com a área genital, mas ela também representa um perigo para a boca. E, uma vez instalado na mucosa bucal, seu vírus é transmitido até pelo beijo. Resultado: o aumento dos casos de câncer de boca e garganta em gente cada vez mais jovem.
Antes, as vítimas desses tumores costumavam ter mais de 50 anos e, em comum, o hábito de acender um cigarro atrás do outro e de consumir demais bebidas alcoólicas. Mas uma pesquisa feita pelo Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, revela que o perfil mudou: hoje, mais de 30% das pessoas com câncer na cavidade bucal têm menos de 40 anos. “Muitas nunca fumaram na vida”, conta o líder do estudo, o cirurgião oncologista Luiz Paulo Kowalski. Segundo ele, entre os que desenvolvem o carcinoma na garganta, a contaminação pelo HPV alcança 80%. “O sexo oral é o principal comportamento de risco, mas a epidemia é tão grande que suspeitamos de formas de contágio mais simples, que ainda nem conhecemos”, afirma Kowalski.
Existem mais de 100 tipos de HPV por aí. Uns passam batidos pelo organismo, enquanto outros causam as grandes infecções. Mas as variações que provocam tumores e mais preocupantes são a 16 e a 18 — a primeira é responsável por 90% das encrencas no pescoço. Esses dois tipinhos desencadeiam o câncer nas mucosas em que se instalam — sempre no revestimento externo dos órgãos. Na garganta, a região preferida é a orofaringe, ou seja, tudo o que fica atrás do tal sininho: a amígdala e a base da língua. Mas o HPV também protagoniza tumores na laringe, na ponta da língua, na gengiva, no assoalho e no céu da boca.