A medicina hoje dispõe de drogas e equipamentos que conseguem aniquilar tumores com a precisão de um ataque aéreo. Mas acredite: uma boa massagem deve fazer parte do arsenal na guerra contra um câncer. Ela garante a dose de bem-estar de que indivíduos com a doença necessitam em meio à batalha. Palavra da ciência. Pesquisas recentes constatam que, feita de maneira correta, a massagem reduz tensões e alivia a dor nesses pacientes.
Ninguém precisa ser um especialista ou massoterapeuta para proporcionar esse benefício (veja no passo a passo ao lado). Basta ter noções básicas. Dessa forma, pais, filhos, irmãos, parceiros — todas as pessoas próximas, enfim — podem colaborar com a recuperação dedicando-se alguns minutos a esse contato terapêutico. É o que revela um novo estudo orientado pela Collinge Associates, uma organização americana que investiga o efeito de terapias complementares para o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.
Depois de acompanhar 97 voluntários — com diferentes tipos de câncer em variados estágios —, os pesquisadores constataram que os toques na pele têm um profundo impacto na qualidade de vida de quem enfrenta um tumor. “Uma massagem de 20 minutos já é capaz de reduzir pela metade a ansiedade e as dores”, diz William Collinge, médico que dá nome à associação e que coordenou o experimento. “Imagine se ela for realizada no conforto de casa, onde orientamos o paciente a ser massageado três vezes por semana. Naturalmente, a vantagem é muito maior.” Segundo o médico, que foi professor na Faculdade de Saúde Pública da Universidade da Califórnia, seu estudo atesta cientificamente que a massagem deve ser considerada uma terapia de suporte eficaz, ajudando o paciente a aguentar firme o tratamento do câncer em si.
O trabalho de Collinge resultou em um programa que pode ser seguido por meio de um DVD. Por enquanto, ele só está disponível em inglês, espanhol e mandarim. Mas é possível ter uma ideia do seu conteúdo no site www.revistasaude.com.br.
Os mecanismos que fazem da massagem um bálsamo ainda não foram totalmente esclarecidos. “Alguns estudiosos sugerem que ela aumenta a liberação de substâncias como serotonina e dopamina, as responsáveis por reduzir a transmissão do impulso doloroso para o sistema nervoso central”, explica a enfermeira Karine Leão, que é assessora de pesquisa acadêmica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. “A massagem também distrai, tirando o foco da atenção do incômodo.”
Outras pesquisas demonstram que a técnica realizada nos pés, ou superficialmente pelo corpo, por um tempo médio de 30 a 60 minutos, reduz dor, fadiga, náusea, tristeza e depressão. “Esse efeito dura por volta de 48 horas. Daí por que a terapia deveria ser administrada a cada dois dias, no mínimo”, acredita Karine.
Diferentemente do que se pensava até anos atrás, a manobra não facilita a disseminação de células cancerosas no organismo, isto é, a metástase. No entanto, nem todo paciente que enfrenta um câncer pode desfrutar da massagem. “Um mínimo de contato já é suficiente para provocar uma fratura em indivíduos cujo tumor se espalhou pelos ossos”, exemplifica Marcelo Fanelle, diretor clínico do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo.
Em outros casos, o procedimento deve ser apenas adiado — como quando há risco de infecção e sangramento, algo denunciado pela baixa contagem de plaquetas de um hemograma. Ou se há uma ameaça de trombose, e um coágulo pode se deslocar perigosamente. “Mesmo assim, há sempre áreas seguras que podem ser tocadas e causar relaxamento”, tranquiliza Collinge. “Pegar nas mãos, nos pés, na cabeça e no rosto, por exemplo, traz a mesma sensação de acolhimento.”