sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Educação sexual funciona?


 Se a adolescência em si carrega transformações que inspiram livros e filmes, imagine, então, quando surge uma gestação inesperada. Essa enxurrada de dilemas e conflitos acaba de desaguar no cinema, com a comédia americana Juno. Quem protagoniza a história é uma garota de 16 anos que, justo em sua primeira vez, engravida do melhor amigo. No filme, que concorreu a quatro estatuetas do Oscar 008 e faturou a de melhor roteiro original , o tema é apresentado com doses de ironia, o que não deprecia a reflexão. A ficção não está nem um pouco desgrudada da realidade, que, aliás, é universal.
 
A gravidez na adolescência aumenta tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento, afirma a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, que coordena o Programa de Saúde do Adolescente da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.
Um filho no meio do caminho solapa os anos dourados e pode ser um trauma de difícil superação. Para evitar uma gestação precoce e até mesmo doenças sexualmente transmissíveis, é preciso uma ação conjunta de pais, médicos,professores e, claro, dos maiores interessados a moçada. Mas, segundo os especialistas, a educação sexual ainda deixa a desejar. Só no primeiro semestre de 2007, o SUS, Sistema Único de Saúde, realizou mais de 300 mil partos em brasileiras com menos de 19 anos idade que, do ponto de vista médico, seria a reta final da adolescência.
O número não inclui os nascimentos em hospitais particulares. Só que, embora não contem com o respaldo de dados oficiais, há médicos arriscando dizer que a gravidez precoce avança com maior rapidez na classe média. E, quando se mira a faixa etária, ela cresce especialmente entre as menores de 14 anos. Por razões óbvias, também não existem estatísticas precisas sobre abortos em adolescentes, mais ou menos favorecidas.
São Paulo foge um pouco à regra. É que o programa da Secretaria Estadual de Saúde, liderado por Albertina Takiuti, criou centros municipais de atendimento ao adolescente para esclarecer todas as dúvidas e abrir as portas para o diálogo. Eles ajudaram a reduzir em 32% a incidência de gravidez nessa faixa etária nos últimos dez anos. A questão é: mais informação não implica mais prevenção, resume a ginecologista. É fundamental uma mudança de atitude que leve ao que ela chama de negociação da relação sexual. O que isso significa? Os parceiros têm que decidir juntos se estão preparados para a transa. Não basta conhecer os métodos; o jovem precisa ter um auto-cuidado, responde.
A dificuldade é despertar a consciência para um corpo e uma mente mutantes, já que essa é a fase da vida dominada pelas transformações. Já atendi mais de 1 500 meninas grávidas. Nenhuma delas me disse que não sabia como se engravida, relata o ginecologista Marco Aurélio Galleta, responsável pelo setor de Gravidez na Adolescência do Hospital das Clínicas de São Paulo. A gente fala muito dos métodos contraceptivos e pouco da sexualidade, diz. A menina ainda tem a possibilidade de ser orientada pelo ginecologista, diferentemente do garoto, que nem sempre conta com ajuda especializada.