Em comparação com os magros, quem sofre com o excesso de peso tem até três vezes mais risco de, em alguma fase da vida, ficar deprimido. É uma via de dois rumos, salienta a psiquiatra Alexandrina Meleiro, do Instituto de Psiquiatria, também do HC paulistano. Segundo ela, esse problema emocional pode ter como sintoma o aumento do apetite e, até mesmo, incontroláveis compulsões por comida. São as chamadas farras alimentares, episódios em que o indivíduo come à beça, depois se arrepende e fica com baixa auto-estima, explica o psiquiatra Acioly Lacerda, professor da Universidade Federal de São Paulo.
No Hospital São Vicente de Paulo, no Distrito Federal, de 300 pessoas que sofrem com a depressão e são tratadas com antidepressivos, 186 estão com a barriga saliente, com gordura de sobra. As informações são de um estudo recente da Universidade de Brasília. Esses dados não apontam como se dá a associação entre um mal e outro, mas demonstram o quanto ela é forte, diz a nutricionista Helicínia Peixoto, autora da pesquisa.
O trabalho também não avaliou se o que surgiu primeiro foi a grande circunferência abdominal ou a tristeza patológica. Entretanto, uma das hipóteses é a de que os remédios tenham impulsionado o ganho de peso algo que comprovadamente ocorre entre os mais diferentes tipos de antidepressivo. Alguns deles aumentam o apetite e outros alteram o metabolismo. Nesse caso, mesmo que o indivíduo continue comendo a mesma quantidade de calorias, ele acaba engordando, pondera Acioly Lacerda.
Rolha de poço, baleia ou simplesmente gordo é quase certo que quem teve problemas de peso durante o período escolar sofreu com apelidos nada carinhosos como esses. Na vida adulta, embora o convívio social seja mais polido e politicamente correto, o preconceito continua. O obeso não cabe na cadeira do cinema, é motivo de piada entre os amigos e está fora do padrão de beleza. Ele se sente deslocado, diz Alexandrina Meleiro. Aí é que aparece o risco de desenvolver males do trato emocional. A pessoa fica insatisfeita com a própria imagem e tem vergonha de ir à praia, exemplifica a psicóloga Mara Lofrano, do Grupo de Estudos da Obesidade (GEO) da Universidade Federal de São Paulo.
A apatia, a sonolência, as dores no corpo, o desânimo e a fadiga, muitas vezes já existentes em decorrência do acúmulo de gordura no corpo, tornam-se mais freqüentes e são absorvidos como características de personalidade pelo próprio indivíduo. Pronto, a depressão pode estar instalada. O aparecimento dessa doença é mais comum em jovens e mulheres com obesidade severa, o tipo mais grave do problema, nota Anete Abdo. A combinação é explosiva: torna o tratamento ainda mais difícil e intensifica a gravidade de ambos os males.
Surge, a partir daí, uma espécie de ciclo gorduroso. A pessoa come para compensar a tristeza e, simultaneamente, a prostração gera mais barriga. Internamente, no organismo, a depressão aumenta a circulação do cortisol. Essa substância, que também é conhecida por hormônio do estresse, pode induzir ao acúmulo de células de gordura na região abdominal. Além disso, a melancolia profunda reduz a produção de outros dois hormônios, a serotonina e a noradrenalina. O resultado dessa disfunção é aquela vontade louca de comer carboidratos isto é, doces, pães e massas.