Agrande maioria dos pais conhece os sintomas de uma virose, sabe identificar doenças típicas da infância, como catapora e sarampo, e não pensa duas vezes antes de tapar as tomadas da casa. Mas e quando a criança anda tristonha, não se relaciona bem com os colegas, não sabe esperar a sua vez ou chora desesperadamente se precisa dormir sozinha? Em um primeiro momento, esse tipo de comportamento até parece algo natural da idade. Quando se torna recorrente, no entanto, é preciso ficar alerta: por trás do destempero ou da choradeira sem fim podem estar os primeiros sinais de um transtorno psicológico na infância.
Esse é o assunto do recém-lançado livro A Mente do Seu Filho (Editora Agir), assinado pelos psiquiatras Fábio Barbirato e Gabriela Dias. “Nosso objetivo é ajudar pais, professores e até mesmo pediatras a diferenciarem o que é normal e o que não é”, diz Barbirato, que é do Ambulatório Infanto-Juvenil de Psiquiatria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, o primeiro do gênero no país. “Afinal, fala-se muito em saúde física, mas quase nada sobre a mental”, nota ele. Uma pena, sobretudo no caso dos pequenos: quando se identifica uma patologia psicológica logo nos primeiros anos de vida, fica mais fácil prevenir problemas futuros. “Pesquisas provam que boa parcela dos adultos ansiosos ou depressivos tem histórico infantil do transtorno”, revela o especialista.
Só para ter uma ideia, estudos já constataram quadros depressivos em 8% da garotada entre 3 e 5 anos. E estimativas da Organização Mundial da Saúde apontam que, em 2020, a depressão, muitas vezes originada na tenra infância, será a segunda causa de incapacitação médica no planeta. Nos adultos, ela compromete o desempenho profissional e social, deflagra prejuízos na comunicação, leva ao abuso de drogas e até a suicídios. Portanto, fica fácil perceber os benefícios do diagnóstico precoce.
Entre os transtornos mais comuns na infância estão os de ansiedade, de humor, de déficit de atenção e hiperatividade e os globais do desenvolvimento, como o autismo. “Aliás, no ambulatório, vemos uma porcentagem grande de casos de autismo”, conta Barbirato. Hiperativos aparecem em segundo lugar e os demais distúrbios vêm logo em seguida. A dificuldade para identifi cá-los reside no fato de que os sintomas, muitas vezes, são superficiais e camuflados. “A criança sente dor, vomita, tem febre e lesões dermatológicas”, relata o psiquiatra. Somente depois de uma avaliação detalhada é que finalmente se conclui que as emoções são as responsáveis pela situação. Por isso é importante que você aprenda a reconhecer os sinais de que algo não vai bem na cabecinha do seu filho.
Transtornos do humor
As crianças bipolares, que alternam períodos de depressão e episódios de mania, costumam apresentar um comportamento sexual mais exagerado. “Elas se masturbam mais, vivem falando sobre sexo e são o que chamamos de hiperromânticas, ou seja, estão sempre apaixonadas”, descreve Barbirato. Na infância, esse transtorno vem geralmente acompanhado de estados de irritabilidade, explosão e arrogância. Pais e professores devem ficar atentos se os pequenos não param quietos, falam além da conta e acreditam que podem fazer coisas irreais.
No caso da depressão, é importante deixar claro que ela não é sinônimo de tristeza. E está longe de ser algo momentâneo, que passa com o tempo. Às vezes, quando uma pessoa querida ou um animal de estimação morre, ficar triste é até saudável, porque mostra que a afetividade está sendo exercida. Um quadro mais persistente, porém, que geralmente ultrapassa os seis meses e altera, inclusive, a maneira de o pequeno comer e dormir, acende a luz amarela. Aí os pais notam que acaba o interesse e o prazer em atividades antes agradáveis e começam as queixas de dores físicas, de barriga ou de cabeça, sem falar no autoisolamento.
Fonte saude.abril.com.br