Você se lembra de quando os antibióticos eram vendidos de maneira mais fácil e indiscriminada? Em que se comprava na farmácia aquele medicamento da pesada para resolver uma dor de garganta? Pois é, então você deve se lembrar, também, de que, não faz muito tempo, a venda desses remédios sem prescrição médica foi proibida — agora, para adquiri-los é necessário ter em mãos uma receita datada e assinada e, dentro da farmácia, os funcionários têm de fazer um controle rígido, contando a dedo o número de caixas vendidas.
Mas por que falar de antibióticos se o assunto envolve clareadores dentais? Porque algo parecido pode acontecer com essa classe de produtos. O acesso fácil a eles, inclusive por meio da internet, e o uso indiscriminado têm preocupado a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. O órgão do governo já começou a se mexer para criar uma legislação a fim de controlar melhor o que pode ser comercializado nessa área — a ideia é que os clareadores em formato de adesivo tenham de ser prescritos por um dentista. Os cremes dentais com propriedades branqueadoras não entram nessa história. Eles continuam à venda sem restrições no mercado.
O motivo da proposta
Segundo o Conselho Federal de Odontologia, o mais preocupante é o acesso, sem fiscalização alguma, aos agentes clareadores dentais em sites de compra coletiva. Para que haja um maior controle, a entidade, junto a outras instituições, pede uma regulamentação específica, já que o uso incorreto desses produtos pode provocar danos aos dentes e ao resto do organismo.
“Os clareadores caseiros possuem as mesmas substâncias químicas presentes na fórmula daqueles que são usados dentro dos consultórios”, explica o dentista Milton Raposo Júnior, especialista em estética e reabilitação oral da MR Estética Dental, em São Paulo. “Não é que o produto vendido na farmácia não seja bom. O problema está na maneira que as pessoas costumam usá-lo. Sem que haja um acompanhamento há o risco de diversos problemas de saúde”, justifica. A dose das substâncias usadas e o tempo de tratamento — algo que só pode ser bem controlado por um profissional — fazem toda a diferença.
O risco do uso indiscriminado pega desde os dentes até o estômago. Tais produtos podem gerar hipersensibilidade dentária, tanto pelo contato com alimentos quentes ou frios como pela aspiração do ar, retração da gengiva e até mesmo problemas de canal. Outras partes do corpo são potencialmente afetadas, sobretudo o estômago, já que os adesivos podem liberar compostos que, uma vez engolidos, são capazes de irritar a mucosa gástrica.
A Anvisa já realizou encontros com instituições e especialistas para delinear uma legislação a respeito. Isso deve ocorrer nos próximos meses.
Por dentro do mundo dos clareadores
As três formas de clarear os dentes mais utilizadas hoje são o tratamento a laser, o uso de placas dentárias e os já citados adesivos vendidos em farmácia. Só o laser, porém, é totalmente aplicado dentro dos consultórios — portanto, é o único em que há total controle pelo dentista. Já a placa é um molde em que o paciente leva para casa o produto e o aplica por tempo determinado pelo especialista, voltando após alguns dias ao consultório com o intuito de verificar a resposta. Os adesivos dispensam o profissional, mas podem cobrar um preço à saúde, mesmo que sejam mais baratos em comparação com os outros. O dentista Milton Raposo lembra, porém, que todos os tratamentos são capazes de provocar danos quando mal empregados.
Portanto, se você quer clarear os dentes, vale a pena pesar com o especialista o que atenderia a sua demanda, sem partir para uma obsessão pela brancura total. “As pessoas hoje querem dentes cada vez mais claros e quase impossíveis de se conseguir”, comenta o dentista José Luis Bretos, diretor científico do Núcleo de Estudos Odontológicos (NEO) e doutor de ciência e saúde pela Universidade Federal de São Paulo. Lembre-se: aparência não é tudo em matéria de sorriso. De que adiantam dentes branquinhos por fora e totalmente corrompidos por dentro?
Fonte: saude.abril.com.br