Nos últimos anos tem crescido o interesse e a procura pelos alimentos
orgânicos. Muito disso é devido à preocupação sobre o impacto na saúde dos
alimentos produzidos com a ajuda de substâncias químicas (pesticidas,
reguladores de crescimento e fertilizantes minerais). Existe a noção empírica
de que os alimentos orgânicos, além da vantagem de não conterem agrotóxicos,
seriam mais nutritivos. Entretanto, as evidências científicas são divergentes
quanto às possíveis qualidades nutricionais superiores dos alimentos orgânicos.
Com o objetivo de contribuir para o esclarecimento desta questão,
pesquisadores de vários países realizaram um estudo em colaboração em que foi
utilizada uma técnica estatística, chamada de meta-análise, que combina
resultados compilados de estudos prévios sobre o assunto, o que aumenta a
robustez das análises e resultados e, consequentemente, diminui as incertezas
das conclusões.
Este trabalho foi recentemente publicado na revista cientifica British
Journal of Nutrition, e se concentrou na quantificação de nutrientes
comparando frutas, legumes e grãos produzidos com manejo orgânico com o manejo
convencional, não orgânico. Foram analisados e processados estatisticamente os
resultados de 343 estudos sobre componentes nutricionais de alimentos
orgânicos.
Os resultados da meta-análise indicam que os alimentos produzidos com
manejo orgânico apresentam uma quantidade significativamente maior de compostos
antioxidantes, quando comparados com os alimentos de manejo convencional. Os
antioxidantes (fenóis e polifenóis) são protetores naturais contra danos
celulares produzidos pelo estresse oxidativo, o que diminui o risco de doenças
inflamatória e crônico-degenerativas, como doença cardíaca, acidente vascular
cerebral (derrame) e alguns tipos de câncer.
Os alimentos orgânicos, na ausência de pesticidas, produziriam mais
antioxidantes para a defesa contra agressores. Os pesquisadores sugerem que o
consumo de alimentos orgânicos aumentaria de 20 a 40 % a ingestão de
antioxidantes, o que corresponderia a duas porções a mais de frutas e vegetais
por dia.
Outro aspecto importante revelado pelo estudo é que o nível de
agrotóxicos é quatro vezes maior nos alimentos não orgânicos. E, para surpresa
dos pesquisadores, o nível de cádmio nos alimentos convencionais é duas vezes
maior que nos alimentos orgânicos. O cádmio é um metal pesado tóxico que se
acumula no organismo. É matéria-prima de algumas plantas industriais sendo
utilizado na produção de vários artefatos do nosso dia-a-dia.
Apesar do seu aparente impacto, estes resultados devem ser analisados
com certo cuidado. O fato dos alimentos convencionais possuíram mais cádmio e
menos antioxidantes que os orgânicos não quer dizer que eles são prejudiciais à
saúde. Os níveis de pesticidas contidos nos alimentos convencionais são muito
mais baixos que as doses que causam algum problema em animais de laboratório.
Por outro lado, o alto custo e a baixa oferta de alimentos orgânicos restringem
muito o seu consumo pela população em geral.
Esses resultados não devem servir como um inibidor do consumo de frutas,
legumes e grãos (sabidamente grandes promotores da boa saúde) produzidos de
forma convencional, mas, sim, ampliar o debate na busca de soluções para o
incremento da produção, distribuição e comercialização, e consequente
barateamento, dos alimentos orgânicos.
Fonte: British Journal of Nutrition -
doi:10.1017/S0007114514001366.