Quando der a próxima colherada em um iogurte, agradeça aos búlgaros. Afinal, foram eles que há séculos tiveram a excelente ideia de disseminar cepas de bactérias boas — do time das Lactobacillus bulgaricus e das Streptococcus thermophilus — no leite após sua fervura. Juntas, elas transformam a lactose, que é o açúcar natural do alimento, em ácido lático, conferindo um gosto azedo ao produto. Pronto: é a receita do iogurte. O que o povo da Bulgária não devia imaginar é que sua criação, depois de acertar em cheio no paladar de pessoas de cantos muito variados, chamaria a atenção de cientistas mundo afora. Recentemente, pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, resolveram olhar com mais afinco para o alimento. É que, depois de avaliar dados referentes aos hábitos de vida e ao ganho de peso de mais de 120 mil indivíduos acompanhados por 20 anos, eles verificaram que o iogurte — seguido pelas oleaginosas, pelas frutas e pelos grãos integrais — era presença certa na dieta daqueles que conseguiram emagrecer. Segundo Mariana Del Bosco, nutricionista da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, a Abeso, o efeito seca-barriga pode estar associado ao cálcio, mineral encontrado aos montes no iogurte. "Uma das hipóteses é que o nutriente estimularia a queima de gordura e, ao mesmo tempo, inibiria seu acúmulo pelo corpo", revela. Outra explicação plausível é que, ao formar uma espécie de detergente quando chega ao trato gastrointestinal, o cálcio evitaria a absorção de moléculas gordurosas. Se você pensa que é pouco, saiba que há uma terceira teoria. "O mineral aumentaria ainda a termogênese, ou seja, o gasto de calorias", conta Vânia Sarmento, nutricionista da Universidade Federal de São Paulo. Para entender melhor o resultado obtido pelo pessoal de Harvard, um time de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, também nos Estados Unidos, decidiu conduzir um trabalho com camundongos — 40 machos e 40 fêmeas. Enquanto uma parte recebeu uma dieta baseada em junk food, a outra seguiu com a alimentação normal. Depois, metade de cada grupo ganhou iogurte probiótico — carregado de bactérias benéficas — no sabor baunilha. Como era de esperar, a parcela que se lambuzou com o derivado do leite acabou menos gorda. Mas o que impressionou mesmo os estudiosos foi o fato de os testículos dos machos que comeram iogurte serem mais pesados do que os dos animais que seguiram só com uma dieta padrão ou lotada de tranqueira. E esses roedores de testículos robustos engravidaram depressa suas fêmeas. "A investigação ainda está em andamento. Nossa suposição é que as bactérias do iogurte foram capazes de equilibrar o organismo dos bichos como um todo", adianta Susan Erdman, uma das líderes do projeto. Só para constar, as fêmeas que comeram iogurte também deram à luz grandes ninhadas e conseguiram desmamar os filhotes com sucesso. Tem mais: os animais que se esbaldaram com o alimento, independentemente do sexo, exibiram um pelo brilhante de dar inveja. "Está aí uma possibilidade bem animadora: manter uma aparência jovial com o consumo de iogurtes probióticos", entusiasma-se Susan. Aqui, faz-se necessário destacar que nem todas as versões de iogurte são probióticas. Isso porque as duas bactérias que fermentam o leite não sobrevivem à passagem pelo estômago. "Para ganhar tal definição, o produto precisa concentrar essa dupla e pelo menos 100 milhões de outros micro-organismos por porção. Por isso, fique atento ao rótulo", avisa Maricê Nogueira de Oliveira, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.